“Dou remédio e depois começa tudo de novo”, relata moradora de aldeia indígena sobre ciclo de doenças causado pela falta de saneamento
Um estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil expõe que as Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) incidem mais em pardos, amarelos e indígenas. Em 2024, cerca de 2.700 indígenas foram internados por essas enfermidades, com uma taxa alarmante de 27.474 casos a cada dez mil pessoas.
Tabela 1 – Internações* por DRSAI raça autodeclarada, grandes regiões e Brasil, 2024
Outro dado preocupante apresentado no estudo é a taxa de mortalidade, ou seja, o número de mortes a cada 100 mil pessoas em 2023, com uma incidência bastante alta entre indígenas: 21,074 casos a cada 100 mil indígenas. Essa estatística coloca em perspectiva a urgência de políticas públicas efetivas voltadas ao saneamento básico nessas áreas.
Tabela 2 – Óbitos por DRSAI por raça autodeclarada, grandes regiões e Brasil, 2023
Para compreender melhor o impacto por trás desses números, o Instituto Trata Brasil realizou uma entrevista com Cleodinei Martins, moradora da aldeia Itapuã, localizada em Iguape (SP). Seu relato ilustra os desafios cotidianos enfrentados pela comunidade indígena, principalmente na vida das crianças.
“As crianças, pelo que eu percebi, ficam doentes a cada seis meses e eu preciso dar remédio de vermes para elas, mas não adianta porque dou remédio e depois começa tudo de novo. São as crianças mais novas que ficam mais doentes” – relata Cleodinei.
Sobre o papel do saneamento para a comunidade, a moradora ressalta que a melhoria da saúde passa necessariamente pelo acesso à água tratada e ao acesso de banheiros. “O que seria importante para melhorar a saúde das comunidades, principalmente ao meu ver, é a captação de água tratada e também banheiros. Que a gente possa ir ao banheiro com tranquilidade, porque é algo que não temos aqui na aldeia e estamos precisando no momento“
A história de Cleodinei não é um caso isolado – ela representa a realidade enfrentada por milhares de indígenas em todo o Brasil. Para que o saneamento básico alcancem efetivamente essas comunidades, a universalização precisa avançar em um ritmo consideravelmente mais acelerado que o atual, implementando alternativas e soluções específicas que respeitem as particularidades culturais e territoriais dessas populações.