Segundo a pesquisa, quase 9 milhões de moradias do país sofrem com essa privação de saneamento
No mês de novembro, o Instituto Trata Brasil, divulgou um estudo inédito que analisa o perfil socioeconômico e demográfico da população brasileira que sofre com privações nos serviços de saneamento básico. Intitulado “A vida sem saneamento: para quem falta e onde mora essa população?”, o estudo foi realizado em parceria com a EX ANTE Consultoria Econômica e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Foram consideradas cinco tipos de privações: privação de acesso à rede geral de água; frequência de recebimento insuficiente de água potável; disponibilidade de reservatório; privação de banheiro; e privação de coleta de esgoto.
Na privação de acesso à rede geral de água, as estatísticas da PNADC apontam que 8,916 milhões de moradias (12% do total de residências no país) não estavam ligadas à rede geral de abastecimento de água tratada em 2022, afetando 27,270 milhões de pessoas. A maior parte delas (35%) estava localizada nos estados do Nordeste brasileiro, totalizando 3,117 milhões de residências.
Mapa 1 – Moradias e população com privação de abastecimento de água por rede geral, em (%) dos totais, 2022
As pessoas autodeclaradas pardas prevaleceram no total da população em privação de acesso à rede geral de abastecimento de água, respondendo por 56,7% do total em 2022. A população autodeclarada branca respondeu por 32,8% e a autodeclarada preta, por outros 9,2%. Em termos relativos, contudo, a maior frequência ocorreu na população indígena, onde 19 a cada 100 pessoas estavam na condição de privação de acesso à água tratada
Além disso, a análise identificou que 70,2% da população morando em habitações sem acesso à rede de distribuição de água tratada estava abaixo da linha de pobreza em 2022. A linha é definida pela renda domiciliar per capita: quem mora em um domicílio cuja renda per capita foi inferior a R$ 417,45 por mês estava abaixo da linha de pobreza conforme a definição do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Essa renda mensal equivalia a um rendimento diário de R$ 13,92.
A distribuição da população com este tipo de privação apresenta uma forte concentração nos domicílios de baixa renda. Em 2022, 46,9% das pessoas com essa privação moravam em domicílios em que a renda total foi de, no máximo, R$ 2.400,00 por mês. Outros 31,9% das pessoas em privação moravam em residências cuja renda mensal domiciliar variava entre R$ 2.400,01 e R$ 4.400,00. Essas duas classes de renda totalizaram quase 80% da população em estado de privação de acesso à rede geral de distribuição de água tratada.
Do ponto de vista educacional, a grande maioria da população em estado de privação de acesso à rede de água tratada não tinha instrução formal (12%) ou não tinha completado o ensino fundamental (45,8%). O peso da população que chegou ao ensino superior, tendo ou não completado esse ciclo, foi relativamente pequeno, de 6,6%. Para além disso, o estudo indica que mais de 30% das pessoas morando em habitações sem acesso à rede geral de água tratada tinham menos de 20 anos de idade, o que significa dizer que é um problema fortemente concentrado na população jovem do país e nas famílias com um número maior de filhos.
É possível observar a partir das informações analisadas no estudo que, na grande maioria, a ausência de água afeta jovens e famílias, uma triste realidade que impacta todos os aspectos do cotidiano dessas pessoas. É gente simples, sem muita instrução, mas trabalhadora. São pobres e na maior parte das vezes o dinheiro que têm não é suficiente para viver com dignidade. A falta de água em casa, sem banheiro e sem coleta de esgoto acaba afetando a saúde dessa população. Com mais frequência eles têm diarreia e vômito e acabam ficando sem trabalho ou sem escola por alguns dias. Eles têm mais gripes e pneumonias que os demais brasileiros. Isso torna a vida deles ainda mais difícil e o futuro mais incerto, impedindo que possam viver uma vida digna.