Dados do Painel Saneamento Brasil mostram que mais de 45 mil crianças de 0 a 4 anos foram internadas por doenças de veiculação hídrica
Período crucial para o desenvolvimento, a primeira infância é uma fase de grande aprendizagem e que terá impacto marcante na vida da criança. Ao longo desses primeiros anos de vida, especialistas e estudos apontam a necessidade de mais estímulos ao cérebro, uma vez que 90% das conexões cerebrais são estabelecidas até os 6 anos. Ou seja, o desenvolvimento infantil está associado à qualidade de vida que a criança terá neste período.
Entretanto, milhares de crianças brasileiras são expostas a uma realidade precária, como o impacto negativo da ausência de saneamento básico. Segundo informações levantadas pelo Observatório do Marco Legal da Primeira Infância, somente 61,1% das crianças do Brasil vivem em domicílios com acesso adequado ao saneamento básico – entre as crianças negras, as condições de acesso adequado são de 54,1% e, entre as brancas, de 69,8%.
A precariedade do saneamento básico tem implicações imediatas na saúde e no bem-estar na vida da criança. Conforme dados do DATASUS (2021), também disponibilizados no Painel Saneamento Brasil, ocorreram mais de 45 mil internações por doenças associadas à falta de saneamento, entre crianças de 0 e 4 anos – o total nacional de hospitalizações foi de quase 129 mil.
Outro agravante que prejudica o desenvolvimento e aprendizagem da criança é a ausência de saneamento nas escolas brasileiras. Em 2020, 8,6 mil escolas informaram não ter qualquer forma de acesso à coleta de esgoto, enquanto 3,46 mil não tinham acesso a qualquer forma de distribuição de água – como aponta o relatório Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2022, da Abrinq.
Entre os grandes problemas suscitados pela ausência do acesso à água e coleta e tratamento de esgoto para a sociedade, a privação da vivência de uma infância plena e digna é uma das mais prejudiciais para o futuro do país. Para mudar essa realidade e fomentar o direito da criança a aprender, brincar e viver com qualidade, as políticas públicas devem voltar os esforços em busca da universalização do saneamento, algo já previsto em lei pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico, que estabelece que, até 2033, todas as localidades brasileiras precisarão fornecer 99% de água potável para a população e 90% de coleta e tratamento de esgoto.