Sabemos que a ausência do saneamento básico é um problema latente para a população brasileira. Estima-se que cerca de 100 milhões de pessoas ainda não tenham acesso ao esgotamento sanitário, conforme aponta o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, base 2019). Os milhões de brasileiros sem acesso à água chegam a quase 35. E somente 49% dos esgotos gerados são tratados. Mesmo diante de tanta adversidade, o saneamento básico está sendo analisado para monitorar a Covid-19.
Muito se questiona ainda sobre a presença do coronavírus nos esgotos e se isso é mais uma fonte de preocupação para a população. Segundo pesquisadores brasileiros, ainda não há evidências da transmissão do vírus por meio das fezes. A boa notícia é que na sexta-feira, 16 de abril, a Rede Monitoramento COVID Esgotos foi lançada durante um webinar realizado pela ANA em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT ETEs Sustentáveis), em trabalho de coordenação conjunta, que também conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Realizado desde abril de 2020 em Belo Horizonte (MG), o projeto está sendo ampliado para Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro. Pelo monitoramento dos esgotos é possível identificar a incidência e circulação do vírus nas cidades.
O objetivo do projeto é fornecer subsídios para a tomada de decisões para o enfrentamento à pandemia atual com o uso de dados sobre a carga viral do novo coronavírus encontrada no esgoto. Com base na carga viral medida em trilhões de cópias do novo coronavírus por dia, é possível estimar a população contaminada, que elimina o vírus pelas fezes e urina, sendo que não há evidências da transmissão do vírus através das fezes (transmissão feco-oral).
Com isso, é possível antecipar o número de casos e fazer um monitoramento regionalizado, o que permite auxiliar ações dos profissionais de saúde em áreas mais vulneráveis, além disso, a ferramenta torna-se ainda mais importantes nos lugares em que as testagens clínicas são baixas.
Com os estudos, o grupo pretende identificar tendências e alterações na ocorrência do vírus nas diferentes regiões analisadas para entender a prevalência e a dinâmica de circulação do vírus. Outra linha de atuação é o mapeamento dos esgotos para indicar áreas com maior incidência da doença e usar os dados obtidos como uma ferramenta de aviso precoce para novos surtos.
O projeto piloto, Monitoramento COVID Esgotos, que analisou os esgotos de Belo Horizonte e Contagem (MG), serviu como base para expansão da iniciativa para outras 5 capitais. No Boletim de Apresentação da Rede foram divulgados os pontos de monitoramento em cada uma das cidades, a população envolvida em cada um deles e a justificativa para a escolha de cada ponto. A ampliação do monitoramento do novo coronavírus no esgoto para outras regiões do país, por meio do Rede Covid Esgotos, tem o objetivo de estabelecer as bases para no futuro constituir o Programa Nacional de Vigilância Epidemiológica a partir do monitoramento do Esgoto.
A Rede é coordenada pela ANA e INCT ETEs Sustentáveis e apoio do CNPq em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).