Essa disparidade de renda pode significar a diferença entre comprar ou não uma casa própria na vida adulta
Essencial para o desenvolvimento físico e cognitivo na infância, o acesso à água tratada e coleta e tratamento de esgoto desempenham um papel fundamental na vida da criança. O saneamento básico precário compromete a saúde, acarretando em consequências que afetam tanto o presente quanto o futuro dos jovens. Segundo um estudo do Instituto Trata Brasil, jovens que tiveram acesso ao saneamento durante a infância e adolescência podem ter uma diferença de renda ao longo da vida de até 46,1%.
Conforme dados da PNADC de 2019, a diferença no atraso escolar entre jovens de 19 anos é significativa. Aqueles sem acesso a saneamento apresentam um atraso esperado de 4,7 anos, ao passo que o atraso escolar esperado dos jovens com acesso ao saneamento era de 2,9 anos. Isso resulta em uma diferença de 1,8 ano de escolaridade, o que impacta diretamente as oportunidades futuras no mercado de trabalho.
Uma pessoa com um nível educacional menor terá maiores dificuldades para encontrar um emprego e, quando consegue, haverá uma diferença de remuneração devido a menor capacidade para o desempenho de tarefas e trabalhos que exigem maior qualificação.
O estudo do Trata Brasil revela que entre dois jovens de 19 anos com características semelhantes (gênero, raça, local de residência), o que reside em uma casa com saneamento tem uma renda média mensal 33,4% maior do que o que vive sem esses serviços. Além disso, a pesquisa aponta que a cada ano a mais de educação, espera-se um aumento de 7,1% na renda do trabalho. Assim, a diferença de escolaridade de 1,8 ano pode resultar em uma diferença de remuneração de 12,7%. Somando esses dois fatores, o diferencial de renda entre os jovens com e sem acesso ao saneamento básico chega aos mencionados 46,1%.
Considerando que a renda média anual do jovem com acesso ao banheiro é de R$ 12,5 mil, a pessoa sem saneamento deve ter um rendimento anual de apenas R$ 6,214 mil. Ao longo de 35 anos de trabalho, isso representa, respectivamente, R$ 251,7 mil e R$ 125,7 mil, resultando em uma diferença de riqueza estimada em R$ 126 mil. Essa quantia pode significar a diferença entre comprar ou não uma casa própria na vida adulta. A ausência de saneamento básico implica uma privação de renda média anual de mais de R$ 3 mil ao longo da vida economicamente ativa dos jovens.
O legado das carências de saneamento básico impacta a inserção desses jovens no mercado de trabalho, perpetua o ciclo da pobreza e limita as possibilidades de consumo e o bem-estar dessa população.
Por outro lado, se um trabalhador que vive em uma área sem acesso à coleta de esgoto receber esse serviço, sua qualidade de vida melhora significativamente. Isso inclui condições de saúde mais adequadas, o que leva a uma menor frequência de afastamentos do trabalho, entre outros benefícios. Esses ganhos resultarão no aumento da produtividade, impactando positivamente a remuneração na mesma proporção.