Famílias que não contam com água tratada tem quase que o dobro de chance de contrair doenças bucais
Cerca de 46,3% das moradias brasileiras possuem algum tipo de privação de saneamento básico, isto é, cerca de uma a cada duas residências convivem diariamente com algum tipo de privação – conforme aponta o estudo “A vida sem saneamento: para quem falta e onde mora essa população?”, produzido pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a EX ANTE Consultoria Econômica e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A pesquisa analisou as privações a partir de cinco categorias: privação de acesso à rede geral de água; frequência de recebimento insuficiente de água potável; disponibilidade de reservatório; privação de banheiro; e privação de coleta de esgoto.
Tabela 1 – Número de moradias em privação de serviços de saneamento, Brasil, 2022
Como são essas moradias? Tipicamente estão localizadas na área rural em uma cidade do interior ou na periferia das grandes cidades. A casa pode ser vista com maior frequência em alguns estados do Norte e Nordeste brasileiros como, por exemplo, Pará, Maranhão e Piauí. Ademais, também é vista com frequência nas áreas de assentamentos precários das regiões metropolitanas. Em geral, essa casa é precária do ponto de vista construtivo, pois é feita de materiais de parede, telhado e piso inadequados. A parede é de madeira aproveitada e o telhado de madeira ou palha. O piso é de terra batida ou cimento. A casa tem apenas três a quatro cômodos: sala, cozinha e um ou dois quartos. Nessa cozinha não chega água tratada. O lixo dessa casa é queimado no quintal ou jogado em terrenos.
As condições de privação de saneamento têm implicações diretas na saúde das pessoas que moram nessas casas. Ou seja, a população que mora em residências com privação de saneamento tem uma probabilidade significativamente maior de afastamento por doenças de veiculação hídrica, por exemplo. A falta de acesso à rede de distribuição de água, a privação de banheiro e a falta de acesso à rede coletora de esgoto também elevam a exposição a infecções gastrointestinais agudas e a doenças causadas por inseto vetor.
Além disso, com privação de acesso à água ou com privação de banheiro tem uma probabilidade maior de contrair doenças respiratórias, indicando que as pessoas que não contam com esses serviços estão mais expostas a gripes e pneumonias. O estudo também aponta que as pessoas que moram em residências com privação de acesso ao saneamento tem uma chance maior de doenças bucais – uma família em estado de privação de acesso à rede de água tratada tem quase que o dobro da chance de contrair doenças bucais do que uma família que tem acesso à rede geral de distribuição de água tratada.
Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, ressalta que o estudo aponta como a desigualdade social brasileira é refletida no acesso ao saneamento básico. “O problema afeta de maneira contundente as jovens famílias brasileiras, muitas das quais vivendo abaixo da linha da pobreza, que além de tudo adoece mais graças a essa falta de infraestrutura. Quase a metade do país viver com ao menos uma privação de saneamento básico é algo inaceitável e que gera um imenso impacto negativo para todos, afetando a saúde, educação e qualidade de vida de milhões de brasileiros”, finaliza a executiva.