Povoado de Encruzilhada (BA), Vila do Café é uma das muitas localidades do Brasil que não oferecem estrutura hídrica adequada para os seus moradores
Joelma Araújo Pereira Ângelo vive com seu marido e três filhos na Vila do Café, povoado do município de Encruzilhada (BA), a 614 km de Salvador, capital da Bahia. Como muitos brasileiros, Joelma e sua família infelizmente sofrem com a falta de água e saneamento básico em seu município. “Aqui o sentimento que temos é que somos esquecidos. Apesar de ter um polo cafeeiro muito grande, sermos um lugar produtivo, e termos muitas nascentes de água na região, nós infelizmente sempre sofremos com o acesso à água potável e com o esgoto”.
O local, que virou município apenas em 1921, foi batizado de Encruzilhada por se encontrar, lá em meados de 1880, no cruzamento de diversas estradas que levavam para Minas Gerais e para o sudoeste da Bahia, o que garantia o comércio graças à passagem garantida de boiadeiros e tropeiros. Hoje, a cidade conta com cerca de 19 mil habitantes, mas, infelizmente, não oferece uma estrutura digna para a saúde e bem-estar dessa população.
“A falta de água impacta muito a vida da gente. Às vezes a criança indo para a escola pisa no esgoto na rua. Algumas partes da Vila tem uma rede de esgoto feita pelos moradores, mas como não temos uma empresa que administra, esse esgoto às vezes entope. A prefeitura não dá conta e temos que conviver com isso”, afirma Joelma. De acordo com a moradora, o município tem um grande índice de esquistossomose, doença parasitária causada pelo Schistosoma mansoni e diretamente ligada ao saneamento precário.
O estado da Bahia oferece água a apenas 19% de sua população, com 58,6% de coleta de esgoto e apenas 46,7% deste esgoto sendo tratado, de acordo com dados Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2021, compilados no Painel do Saneamento pelo Instituto Trata Brasil (ITB). Investir em saneamento significa mais saúde para a população e melhor rendimento escolar para as crianças, além de uma maior renda, aumento de produtividade no trabalho e menores gastos com saúde. De acordo com o estudo “Benefícios Econômicos e Sociais da Expansão do Saneamento Brasileiro 2022”, produzido pelo ITB em parceria com a consultoria EX ANTE, a universalização do saneamento básico no Brasil pode gerar mais de R$ 1,4 tri em benefícios socioeconômicos em menos de 20 anos.