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>A ausência de saneamento básico impulsiona a pobreza menstrual

Conversas com Victoria Dezembro e Mayara Jacinto mostram a problemática da pobreza menstrual no país

O Instituto Trata Brasil, em setembro de 2020, lançou o podcast “Falando em Saneamento”, com diversos assuntos que abordam temas relacionados ao saneamento básico. Os podcasts contam com a presença de embaixadores, especialistas para o debate do setor, além de convidados especiais que lutam pela causa do saneamento no Brasil.

Um dos podcasts lançados recentemente, no dia 5 de julho de 2021, foi com a convidada Victoria Dezembro, fundadora do Projeto Luna, que trabalha para reduzir a pobreza menstrual no país e distribui kits de higiene feminina para meninas e mulheres menos favorecidas. Na conversa, Victoria explica os conceitos de pobreza menstrual e como a ausência de saneamento agrava o problema do Brasil.

De acordo com dados do Unicef Brasil, a pobreza menstrual ocorre em locais sem acesso a infraestrutura básica, como por exemplo, o próprio saneamento.

Nascida em Santa Cruz no Rio Grande do Norte, Mayara Jacinto foi uma das milhares de meninas que sofreram com a pobreza menstrual. Em uma entrevista com o Trata Brasil, a fundadora do Vidas Marias compartilhou as dificuldades que enfrentou devido à pobreza menstrual, “Durante a minha infância, enfrentei diversas dificuldades e a pobreza menstrual foi uma delas, porque tinha que chegar cedo na escola para pegar papel higiênico para usar durante o meu ciclo menstrual e usei também panos velhos, relatou Mayara.

Ativista pelo direito das mulheres e na erradicação da pobreza menstrual, Mayara fundou o Vidas Marias que leva absorventes para meninas e mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade, como também buscam levar a informação e educação menstrual, “Já estamos atendendo cerca de mais ou menos 150 mulheres, tanto em Santa Cruz aqui na minha cidade, como também uma cidade vizinha chamada de Tangará”.

Durante a conversa, Mayara alertou sobre o problema da desigualdade no país e da falta de saneamento básico, “Nós vivemos em país totalmente desigual, de acordo com o Ministério da Cidadania, nós temos 40 milhões de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza no país e a pobreza menstrual está inserida nesse meio. Um estudo realizado do Trata Brasil mostra que 1,5 milhão de mulheres não tem banheiros em suas casas”.

Uma das ideias do projeto Vidas Marias era a distribuição do absorvente ecológico, mas infelizmente a falta de água presente na cidade não possibilitou a ideia, comenta Mayara “Quando pensamos na formar de distribuição dos absorventes, comecei a analisar a questão da minha cidade com a falta de água, que é tão constante e pensamos em utilizar o absorvente ecológico, porque seria uma forma de preservar o meio ambiente. Entretanto, percebi que a minha cidade falta muita água e não seria possível usar esse tipo de absorvente, principalmente para as camadas mais pobres que atendemos, porque seria necessária toda higiene”.

Resolver este problema não é fácil. Um dos estudos recentes lançados pelo Trata Brasil mostra que metade das famílias abaixo da linha da pobreza não recebe serviços de água e/ou esgoto – confira o estudo no site do Trata Brasil (inserir link).

De acordo com Mayara Jacinto o país precisa de políticas publicas eficazes que atingiam a ponta da nossa sociedade “A pobreza menstrual não é só a falta de absorventes, mas sim uma questão estrutural, educacional e econômica. Precisamos lutar para que as meninas e mulheres possam ter oportunidades, possa chegar dentro de suas escolas ter absorventes e ter oportunidade do direito de sonhar que é tão importante para essas pessoas” finaliza a fundadora do Vidas Marias.